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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Debater até o fim?


Raramente esgotamos um debate – mesmo os debates saudáveis, com gente civilizada. A covardia (em geral travestida de prudência) e a preguiça costumam agir com mais eficácia. Vejo grandes prejuízos nessa atitude, pois ela impede que organizemos melhor nosso complexo de crença e valores, os argumentos que angariamos na leitura e na vivência cotidiana. Eu mesmo costumo agir assim, e é com o fito de me remediar desse defeito que, nos últimos 2 anos, tenho voltado com frequência à querela de Santo Agostinho com Pelágio. O debate entre Agostinho e Pelágio, para quem o desconhece, gira basicamente em torno do sentido da natureza humana e do papel da graça no plano de salvação do homem. Desconheço uma refutação tão completa, uma contra-argumentação tão paciente, detalhada e meditada como a que Agostinho impõe a Pelágio, sem desmerecer o adversário. Aquela paciência, aquele rigor, aquela absoluta honestidade que não prescinde da dureza – eu sinto a cada dia que tenho que aprender nem que seja mais um pouco daquilo. Por isso talvez eu goste de pensadores tão díspares como Nietzsche e santo Agostinho. Há livro tão felizes (como para mim são os de Agostinho) que nos dão não apenas ideias mas ainda o segredo de como fabricar ideias. 

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