Miguel de Unamuno disse: “Deus vos livre, leitores, de tropeçar com um literato. Com um genuíno
literato, com um profissional das letras, com um ebanista de prosa envernizada.
É uma das piores desgraças que nos pode acontecer”. E antes de Unamuno,
Nietzsche já dizia que quem quer se um escritor de relevo deve antes se
envergonhar de ser um homem de letras.
De fato, o escritor (refiro-me especialmente ao
tipo literato) é não raro um ser
repugnante: egocêntrico, mimado, incapaz de ouvir, irritantemente autocentrado,
cheio de manias ridículas. Nas conversas corriqueiras, literatos costumam
sustentar opiniões absurdas, frágeis a qualquer argumentação séria, para se sobressaírem
perante as “pessoas comuns”, que supostamente só pensam o óbvio. A tuberculose
matou muitos; a AIDS tirou a vida de alguns; mas a síndrome romântica do gênio
incompreendido foi a praga que mais destruiu literatos nos últimos séculos. O
desejo de ser diferente ou de dizer diferente para parecer especial leva
facilmente o sujeito a tornar-se un
ebanista de prosa barnizada.
Para alguns, o remédio é o magistério. De
fato, o ensino ajuda a equilibrar as inclinações egocêntricas do escritor,
dando a ele certo bom senso. Mas até entre escritores-professores há os
incuráveis; quem em sua vida estudantil não tropeçou com um desses sujeitos que
pensam ser a matéria central das aulas a vida deles próprios?
Nada é mais entediante do que o gênio
auto-proclamado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário