Translate

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Wesley Safadão e Chorão: Frasistas da Era da Auto-ajuda


Cada vez que um aluno meu dá um curtir nessas páginas do Face com frases do Wesley Safadão ou do Chorão fico pensativo. Não sou um alarmista apocalíptico nem um assecla da Ditadura do Bom Gosto: não penso que ouvir músicas da Garota Safada ou do Charles Brown Jr. vá macular ninguém. Mas estranho quando alguém que lê e discute clássicos da literatura em sala de aula escuta o Safadão ou o Chorão atento à “mensagem” das letras, em busca de um norte para vida, elevando-os à condição guru (alguém dirá que é um fenômeno adolescente, no que concordo em parte, desde que a adolescência tenha se estendido até por volta dos 40 anos). Eu fico pensando: como é que o sujeito não percebe ali, naquelas composições e frases de Twitter-Facebook, a banalidade clichê, o mau gosto da imagem, o domínio precário do português. Há fatores ligados ao sistema educacional e à sua precariedade que estimulam e promovem este estado de coisas – e são tantos os motivos que, se eu fosse elencá-los, transformaria este fragmento num tratado. Há também problemas concernentes à esfera individual, que também não são poucos. Mas, se remetermos à questão para um âmbito mais geral, aquilo que Lyotard denominou fim na crença em metanarrativas produz não poucas vezes um indivíduo que, esvaziado de utopias políticas e sem o sentido profundo da vida que metanarrativas como o cristianismo produzem, se apegam ao primeiro refrigério, degradado que seja, que lhe oferecem. Demitimos o trágico e desiludimos das utopias. E ao niilismo alegre que sobreveio é suficiente se apegar a um punhado de frases de auto-afirmação e conselhos sentimentais alinhavados em mau português e com inclinação ao Kitsch. Por isso, no que diz respeito ao que se discute aqui, Safadão e Chorão podem ser mais bem compreendidos não como cantores, mas como contrafações de Roberto Shinyashiki, Augusto Cury & Cia.

Nenhum comentário: